sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

LIVROS

Ana Leão

O interessante foi que a partir da discussão sobre os capítulos lidos em ‘ A condição Humana’ de Hannah Arendt mais um ponto se esclareceU e ‘ definIU’ melhor a linguagem do nosso trabalho. A Respeito do Eterno: “A experiência do Eterno como indizível; sem palavras; aquilo que é agora, que só pode acontecer longe da esfera dos negócios humanos (...).
Politicamente falando, se morrer é o mesmo que deixar de estar entre os homens, a experiência do Eterno é uma espécie de morte.”

Na peça 9:50 qualquer sofá, falamos para o público: respira. Respira.
Hannah pode trazer para nós mais uma noção da qualidade do que nos move,(Subtexto) luz a que estamos nos referindo quando falamos isto para nós e para as pessoas. Assim como AQUI, ( que repetimos durante a encenação) onde acontece o mesmo.

Falamos de vida, procuramos revelar a vida tanto nas intervenções quanto na peça.
E Isto claramente se torna fundamento de nosso trabalho. E a partir destas leituras e discussões podemos nomear, tornar comum e ir adiante no aprofundamento proposto.

Outra importante e benéfica utilidade foi darmos passos a estabelecermos uma linguagem comum, agora no sentido mais conceitual da palavra, para termos mais acuidade no tratar e na comunicação.

Sobre este trabalho, Cris coloca – dialogando com Hannah – que a chave deste trabalho são OS FAZERES E NÃO OS PENSARES.

WORKSHOP NORBERTO PRESTA - Ana Leão

WORKSHOP NORBERTO PRESTA
ECOS
DES articulação – impulso movimento postura.
Vem sensação, vem memória, bem pensamento, vem vontade de ficar pq ta gostoso vem vontade de mudar pq ta ruim vem enjôo vem prazer vem
Tudo vem e
Passa.
E transforma
Exercícios ricos
Impulsos que vem da coluna
Ajustes
Permanentemente surpreendente.

Olhos como vértebras. Estão como continuidade da coluna. Não se fixam. Mas atentos vêem.
Não colam fora
Dentro e fora ao mesmo tempo
Dentro e fora.
O corpo pensa a mente dança.
Por impulsos. Ritmos e vozes em ressonância dentro e no espaço.
VOZ – vibra peito e nariz ao mesmo tempo.
Postura madura, adulta na condução do trabalho.
Valorizar tempo para se experimentar de fato.
Grupo, jogo. Junto manter este estado.

Atores bons.
Convidados deliciosos.

Em pratica relativo ao texto:
Entendi como proposta do 1º para 2º dia texto ter tema p lamento.. fiz um.
O tenho aqui. Logo ‘blogo’.
No segundo dia, incomodada por não ver nele imagens, e não senti que me provocasse algo e pouco aos outros, olhando Manuel de Barros, e me sentindo rastejante e ao mesmo tempo agradecendo intensamente o ar que respiro, me identifiquei com um trecho que falava das lesmas. E PARA SE SER, EXPERIMENTAR. No corpo. Ser o outro para aprende-lo, percorrê-lo.
‘Bloga-lo-ei.’

No ultimo dia - Composição com Paulinha. Partitura corporal + texto.
Bom. Tudo muito bhom.
Ficamos sim, em estado de consciência outro. Ficamos sim, do tamanho do salão
Que não é nada pequeno!
Sim, o Norberto Presta !!!!!!!!!!!!(áiáiái... piadas destas aqui no blog complica! vou tentar segurar. Prestíiiissimo)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Workshop Norberto Presta - Graziela

"Inventaram um vidro que deixava passar as moscas. Elas chegavam, empurrama com a cabeça e pop, já estavam do outro lado. Enorme a alegria da mosca." Julio Cortázar

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

WORKSHOP do Norberto Presta - Manuela


Acabo de me dar conta que é da natureza desta pesquisa estar vazia e disponível na exploração e não cheia, mas o que acontece comigo é que eu não consigo ser vazia porque eu não sou vazia, tenho densidade de matéria bem mais densa que a densidade que tem o AR... fora de mim. Por isso preciso de tempo de estar comigo antes de estar com outro e neste trabalho somos convidados a tal pelo Noberto que nos pede para scannear nosso ser, para agir através de impulsos, deixar fluir... presente no espaço.

Lá de trás: Segunda feira, o 1° dia: o Norberto propôs e brincamos com ritmos, ativamos o corpo, brincamos, foi como uma integração de equipe... levantamos a discussão sobre o tema com os convidados e ficamos de fazer um lista de ações (interrompidas) para o 2° dia de workshop. Também deveríamos escolher e decorar um trecho de um texto sobre o dentro e fora, e/ou sobre o lamento (este, um pequeno universo dentro de um maior). Arrisquei rascunhando pensamentos da Hannah Arendt, da astronomia de Jorge de Albuquerque Vieira e das minhas brincadeiras. Ah! Tem Shakespeare também... lá vai:

É altamente improvável que nós, que podemos conhecer, determinar e definir a essência natural de todas as coisas que nos rodeiam e que não somos, venhamos a ser capazes de fazer o mesmo a nosso próprio respeito: seria como pular sobre nossa própria sombra.” ¹
Nossa própria sombra. Assombra a linha limite, a linha aqui e ali fora e dentro dentro dentro sinto meu pulso sinto ar contornando meu pulso pulso pul so
Derreto como gelo, como derrete o branco gigante do hemisfério. Derrete espalhando água recolocando deslocando Deslocando água sangue no tempo sucessivamente no espaço todo dia
Até ficar longe longe longe e lá manifestar lentamente a transformação. O universo
(Uni verso)
Um verso verso único: que verso escolher?
Olho de longe: “E o que o amor pode, o amor ousa tentar”²
não é atôa que a gente é reflexo desse céu estrelado, somos o universo manifestado, dentro . independe da escala do zoom se olharmos bem é sempre um novo universo contendo o universo anterior sempre maior e menor
penso nos órgãos nas tripas que nunca estiveram fora. Sempre úmidos. Nunca estiveram em contato com o ar, não sem a minha mediação. Se alimentam do ar que já respirei. São parte de mim como sou parte do universo. To dentro ou to fora? Imagine um mundo sem perguntas...

¹ ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Forense Universitária, 2008.
²SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. Nova Fronteira, 1997.

No 3° dia trabalhamos bastante voz com texto, voz sem texto, VOZ. Exploramos a reverberação do som no próprio corpo e na sala. Estávamos numa sala com pé direito baixo e foi possível fazer vibrar o ar na sala. Reverberar.

Agora, do 4° para o 5° dia de workshop, é hora de dar um passo novo: codificar sem se fechar, trazendo à consciência aquilo que se visita durante o trabalho. Hora de fazer escolhas. Nós levantamos materiais nestes dias (tenho uma seqüência de ações (interrompidas) e o texto) que agora devem ser organizados para seguirmos com o trabalho caminhando a um momento cênico – foi um pedido no Norby, estou trabalhando com a Gra nisso. Mesmo fazendo escolhas de ações e texto no tempo, ainda assim devemos nos manter abertas para o presente, para os impulsos que acontecem no exato instante do jogo, da relação viva para incorporar estes impulsos. E já, levando o retorno da Cris de hoje para a prática, acho que seria legal nós termos como intenção a leveza do jogo cômico, de fundo, como uma intenção branda... as coisas devem ser organizadas no corpo e nosso trabalho é escutar impulsos, escolher uma seqüência em dupla de texto e ação, e jogar com elas nos três níveis de atenção que o Norberto fala: consigo, em relação com o outro e em relação com o espaço. Muita coisa, hã?...

Que venha o amanhã!

domingo, 23 de novembro de 2008

COMPOSIÇÃO 02 - Paula

COMPOSIÇÃO 02 - Graziela

AÇÃO DO HOMEM NO MUNDO

 

Preparação

Quando penso na ação do homem no mundo

Eu vejo...

Eu ouço...

Eu sinto...

Coloquei o público, como Homem. Agressor.

Inclui todos na cena ao dar uma ação repetitiva. Essa ação era jogar uma bexiga cheia de água no ator-mundo em cena. Arrebentar a bexiga de água no ator. O homem agindo no mundo.

A revelação, a crueldade de cada um.

O local escolhido foi embaixo de uma árvore, e assim que a água caia no chão, sentia-se o cheiro de terra molhada.

Composição

O público entrava para ver a cena ao sair do prédio. Nessa entrada uma atriz com uma bacia coberta pedia para cada um colocar a mão na bacia e falava:

Antes de entrar escolha seu mundo... sou o mundo de mim mesmo, se eu quero sair do mundo, quero sair de mim, para sair de mim devo encontrar a morte”

Cada um colocava a mão na bacia sem saber o que havia dentro, uma sensação de dentro... Viscoso.

Cada um escolhia sua bexiga-mundo, e provocados pela atriz que carregava os mundos atiravam as bexigas, ou não, segundo o seu desejo.

Enquanto atiravam as bexigas em mim eu cantarolava uma música e fazia uma ação de me lavar, inicialmente sem água, que foi crescendo em velocidade e tamanho.

Demorou para que a primeira bexiga estourasse, enquanto isso eu recebia as pancadas, intensas, que eram delatadas pela minha voz, única e exclusivamente pelo recebimento da ação. 

Quando a primeira bexiga estourou, ou seja, se concretizou a ação, os ânimos se alteraram, e o desejo de jogar a bexiga (agressão) aumentou. À medida que esse êxtase agressivo cresceu uma grande ventania tomou a cena e a finalizou. O mundo respondeu à ação do homem.  


Abaixo uma conseqüência da minha composição, um adendo, algo que extrapolou.
Na cena queria despertar a ira e violência sem deixar de lado o lúdico e tinha que ter o elemento água...
Resolvi com balões. Balões cheios de água!
Eles seriam e foram atirados em mim pelo público estimulado por uma das atrizes. Estava em casa preparando a cena, ou seja, enchendo os bexigas e comecei a pirar no formato, vi uma dança fantástica. Auxiliada, estimulada e provocada pelo Leo, aqui está o “resultado”...




AÇÃO DO MUNDO SOBRE O HOMEM

 

Preparação/ Composição

Quando penso ação do mundo sobre o homem

Eu vejo... 

Eu ouço... 

Eu sinto...

Coloquei aqui mais o mundo como um receptor do que condutor. Alguém que reage, mais do que age.

Uma rosa para representar o mundo. A rosa revelada com muitos alfinetes espetados em suas pétalas. “Os espinhos estão dentro da rosa”.

O local da cena foi uma escada. Com dois lances. Nessa escada muitas conchinhas espalhadas. Nessa escada uma atriz que repetia a fala “eu recolho as migalhas” ao recolher as conchas e criar uma música com elas.

O público ficava no pé da escada. No chão, paninhos vermelhos formando desenhos feitos com alfinetes. Coloquei o público com a possibilidade de agir, dando dois substratos, antes de entrar entreguei um retalho vermelho e ao longo da cena alfinetes foram atirados de forma repetitiva para eles.

Os alfinetes como ferramenta de ação. Algo que possibilite a criação, mas também algo que entra agudo e pontual.

COMPOSIÇÃO 02 - Manuela

COMPOSIÇÃO 02 - Cris

COMPOSIÇÂO 02 - Ana

Quando penso na ação do homem sobre o mundo eu
Sinto cheiro de
Eu ouço
Eu vejo.
e o mesmo
Quando penso na ação do mundo sobre o homem...

Trocamos entre nós. Depois, Cris pede composição. Nela entraria todos os elementos.
A minha:

Quando penso na ação do homem sobre o mundo:
Eu vejo ... tudo entupido. uma bexiga.
Eu ouço ... um estouro
Eu sinto cheiro de ... diesel (borracha queima serve.)

O estúpido entupido
O mundo no homem o homem no mundo.
O mundo aqui.
bexigas Azuis no túnel dentro da chaminé. Fósforos.
ECO forte. Musicalidade das bexigas – com o ar que saia pelo bico dosado nas mãos.
Leveza do jogo aqui agora. A platéia recebeu chapéu de festa de aniversario – de jornal.
Elas estavam numa festa de Parabéns pra vc.
Ali poderíamos comemorar o que ‘ cultuamos’ diariamente e então cresce cresce.
A revelação – um caminhãozinho de ferro amarelo que estava dentro de uma das bexigas que ao ser estourada aparecia.
Manu foi parceira, convidei-a para a cena comigo. Antes conversamos e descrevi a ela o roteiro e principalmente o estado que queria que estivéssemos.
Os sons. Prioritariamente os sons + jogo entre nós e aqui agora com espaço e com elas ( platéia – Cris e Grã).
Estado saboroso de tudo pode acontecer. Do cômico ao agressivo. Estouro das bexigas primeiro susto, depois com intencionalidade, crueldade e com os pés. Expressão mesma. Neutra.
Certo prazer ( crueldade então) pela destruição.
Musica – som do metrônomo
E depois
Musica derivada de tecno.
Como proporcionar o cheiro...
Fogo. Na bexiga, com um pouco de álcool ( preparada antes).
Enquanto pegava fogo,
Sobre a musica, li Trecho de álvaro de campos – ode ao triunfo. procurei brincar com a musica e a palavra. Mas , sei q não consegui . talvez a sugestão tenha sim aparecido, mas, distante do que eu imaginava !claro. hihihi.
O ode ao triunfo, nos trechos q peguei comemorava a maquina, o consumo, a fumaça.

Mundo sobre o homem: Frutas, terremoto, cheiro de mar.

FALANDO DO TEMA COM NORBERTO PRESTA


Ontem tive reunião com Norberto Presta, ator, diretor e dramaturgo, argentino radicado na Itália.
A partir de segunda-feira, Norberto irá conduzir o primeiro workshop do projeto. Ele decidiu chamar o trabalho que fará com a gente de ECOS.
Falamos muito e ele abriu várias janelinhas luminosas na minha cabeça. Grande sintonia com as as inquietações que motivaram este projeto.
Ele falou muito de uma página em especial do texto que lhe enviamos. Compartilho com vocês:

TEMA

“Na verdade, não sei por que estou tão triste”
O Mercador De Veneza, William Shakespeare

DA TRISTEZA
BASES PARA A CRIAÇÃO
A primeira fala da controversa peça de Shakespeare toca-nos particularmente: discorre sobre uma tristeza de causa desconhecida. Citando reportagem de Fernando Eichenberg: “Na Antigüidade greco-romana, médicos como Hipócrates (460-377 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) já faziam a distinção entre "distúrbio da tristeza sem causa" e "tristeza normal com causa". O escritor francês Victor Hugo (1802-1885) definiu a melancolia, uma variante da tristeza, como "a felicidade do estar triste". Na definição enciclopédica de Diderot era "o sentimento habitual de nossa imperfeição". Em 1958, o cirurgião-geral L. E. Burney já alertava que "problemas do cotidiano" não podem ser "solucionados com uma pílula".
Se, durante séculos, o sofrimento teve algum valor ou sentido hoje parecemos estar imersos numa epidemia depressiva. De acordo com dados da OMS, no ano de 2020, a depressão será a segunda maior causa de incapacitação para o trabalho (atrás somente das doenças cardíacas). Nos EUA, uma em cada oito crianças é diagnosticada como depressiva. No Brasil, estima-se que 17 milhões de pessoas recebem o mesmo diagnóstico.

Segundo Maria Rita Khel, o aumento da depressão na sociedade ocidental pode ser visto como um sintoma social, ou seja, um indício de que algo na sociedade não está funcionando. O depressivo seria uma caixa de ressonância do desajuste de sua época. Ao mesmo tempo, representaria uma busca de mudança ou de cura nesta sociedade. Uma tentativa de reorganizar o sentido perdido.
Para Horwitz e Wakefield, o homem moderno fecha os olhos para a sabedoria do passado e se engana não somente de tristeza, mas também de felicidade. Remédios são receitados como parte de uma ideologia, mais do que de uma ciência. Vivemos numa sociedade que não tolera a tristeza
Somos solicitados incessantemente ao Gozo e à Alegria, veiculados principalmente através de mensagens publicitárias. A imaginação é colonizada por imagens de felicidade que não nos trarão felicidade. Ainda assim, todos nós buscamos as fontes de felicidade: o paraíso, o nirvana, a iluminação, um prato de comida ou o carro do ano.
Diante disso, quais são nossas escolhas e valores? Como fica a relação com o outro? Como e do que nos lamentamos?
Do que nos arrependemos?

DA AÇÃO E DO ARREPENDIMENTO
Se a depressão compromete o agir, o arrependimento se refere a uma ação ou a uma falta de ação.
Segundo Hannah Arendt, a ação apresenta em si duas fragilidades: não se pode controlar totalmente seus efeitos - a ação é imprevisível- e não se pode reverter o que se fez - a ação é irreversível.
BASES PARA A CRIAÇÃO
É interessante observar como Gilles Deleuze relaciona as mudanças da sociedade com a ação e o riso. Nos filmes de Jaques Tati e de Jerry Lewis, os dois comediantes do pós-guerra, em países diferentes e sem influenciar um ao outro, criam personagens estrangeiros às situações que os rodeiam, às lógicas novas que os escapam. Não se pode mais agir. Não há mais ação. A impossibilidade de agir configura-se em cada um deles de forma diferente e vai empurrar a situação até o desastre. A catástrofe provoca o riso, ancorada numa perspectiva mais contemporânea.

Queremos explorar como os aspectos do mundo exterior - valores, qualidade de vida, mudanças sociais- tendem a se confundir com os processos emocionais do indivíduo. E como os processos do indivíduo se refletem no mundo que os cerca.
Investigar cenicamente.
Os mecanismos da ação.
Aquilo que incapacita para a ação.
Sintomas sociais.
Felicidade e tristeza. O riso "

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O GUARDA-CHUVA DE BUSTER KEATON



Numa pequena cena de "Coração de Estudante", Buster Keaton, encharcado da cabeça ao pés numa ocasião extremamente formal, tenta fechar seu guarda-chuva. Tenta, tenta de novo. Não consegue. O homem ao seu lado, num gesto de gentileza, toma o guarda-chuva, fecha-o com grande facilidade e o devolve a Keaton. Abismado, Keaton abre o guarda-chuva novamente para tentar entender o que aconteceu. Examina. E depois de mais esforço Keaton consegue fechá-lo sozinho e então, orgulhoso de si mesmo, abre o guarda-chuva novamente só para demonstrar ao outro homem sua nova habilidade. Desta vez, não consegue mais fechar o guarda-chuva. E por aí vai...

Este lazzi se desenvolve: um objeto que não se domina, a tentativa infrutífera, o sucesso casual e inesperado, a impossibilidade de controle, a inferiordade diante do outro, a frustração diante de sua própria imperfeição (que o outro nem vê)...
Uma descrição como esta poderia nos fazer pensar em um drama.
Mas este pequeno trecho de jogo é hilário.

Se a graça tem a ver com o crescendo da situação, o ritmo, as frustrações, o inesperado, o riso acontece também por um estado do ator.

Pra pensar, segue o abstrato do paper de Alex Clayton “The Layering of Intention: A New Theory of Comic Performance” . Alex é o autor de The Body in Hollywood Slapstick.
Acho que dá conta de uma dimensão importante do jogo cômico, que tem a ver com a não-identificação:
"In thinking about what it is that makes a performance comic (as distinct from, say, straightforwardly dramatic or accidentally amusing), one necessarily comes up against the notion that comic performance contains and reveals an intention to amuse, something I would like to call the comic “twinkle” (like a “twinkle” in the performer's eye, difficult to pinpoint but impossible to ignore). How is it that comic intention can be made visible — that is, how is it brought to emerge as an intention within a specific generic and tonal context? This matter can only be resolved through close scrutiny and sustained reflection upon particular comic moments. In the process we find that intention is often complicated by a strategy of “doubled performance” wherein an actor plays a character who is herself performing (in order, say, to impress, or to seduce). Working through varied examples from the history of screen comedy, this paper proposes a new theory of comedy which identifies the layering of intentions and personae as a key dimension of the comic effect. The theory is set forward to develop our understanding and appreciation of comic performance, aiming to contribute to a language of analysis. It should also allow us to recognise how comedy so often works to satirize the performative dimensions of social life."


Deleuze, em uma aula anos atrás, analisou a evolução da ação no cinema cõmico, indo de Keaton a Jerry Lewis. Acabou citado em 9:50 Qualquer Sofá...e nós seguiremos seus passos. Nossa pesquisa inclui estudar a estrutura do jogo em filmes dos grandes cõmicos do cinema. Keaton, Tati, Jerry Lewis são esses seres abismados diante de um mundo que não compreendem nem dominam. Muito como a gente hoje.
Há a diferença entre agir sobre o mundo e ser envolvido pelo turbilhão do mundo. Buster Keaton é mestre incontestável e transita nestas duas esferas... Age até o fim de seus esforços. E o ser mais inadequado se transforma no grande salvador do mundo.
Já assistimos A General, Capitão Bill Jr, Coração de Estudante, Sete Dias, de Buster Keaton.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

JO HA KYU ou tudo que acelera um dia pára - digressões da direção



Um trem em movimento, o cair de chuva, o dia, a semente, o sexo, um gesto, a vida.
Em comum, o início, desenvolvimento, aceleração e resolução.
Uma progressão orgãnica existente em todos os ciclos da natureza.
Citando, sem ordem, Anne Bogart:

JO- A fase inicial, quando a força é colocada em movimento como se vencesse uma resistência.
HA- A fase de transição, ruptura da resitência, aumento do movimento
KYU- A fase rápida, um crescendo sem rédeas, parando de modo súbito

JO-Introdução
HA-Exposição
KYU-Resolução

JO-Resistência
HA-Ruptura
KYU-Aceleração

JO-Começar suavemente
HA-Desenvolver dramaticamente
KYU-Terminar rapidamente

Toda peça tem jo ha kyu. Toda cena tem jo ha kyu. Toda interação tem jo ha kyu. Toda ação tem jo ha kyu. Toda gesto tem jo ha kyu.

E, a parte que eu adoro, todo kyu (fim) contém o próximo ha (começo). Sempre digo, quando em dúvida, pense no sexo. Todo mundo entende!

O conceito de Jo Ha Kyu aparece em Zeami, mestre do Noh.
Tive o privilégio de ter nomeada a experência do Jo Ha Kyu numa oficina muitos anos atrás, no meio das montanhas, com o mestre Yoshi Oida. Na ocasião, ele deu um exercício muito simples que descreve em seu livro "O Ator Invisível". Numa roda, fechem os olhos, e comecem a bater palmas ao mesmo tempo, juntos, tentando chegar a um ritmo comum. E veja o que acontece...
Importante, não querer conduzir, não ser cabeção, e ter rigor em tentar bater palmas ao mesmo tempo. Deixe as palmas ACONTECEREM... Fizemos recente no ensaio e foi incrível. Mas já fiz com bailarinos que queriam "controlar" o tempo. Não rola.
Depois desse exercício, foi muito fácil trabalhar a gradação da ação, com uns exercícios do Lecoq.

Deixo esse vídeo, incrível: a dança Kabuki "Sagi Musume", dançada por Tamasaburo. Uma aula de JoHa Kyu ... dica antiga da Simone Martins.
OBS. Ele é pesadinho, dê um pause, tome um café, coma um sanduíche, e deixe o download acontecer pra assistir de uma vez.
Parte 01


Parte 02



Parte final

DIFERENÇAS ENTRE CRIAR JOGO E CRIAR COMPOSIÇÃO: A RECEPÇÃO DO PÚBLICO- digressões da direção

Ver um signo.
Um objeto: um pedaço de papel, uma vasilha de água, uma porta branca.
Na composição, a liberdade de combinações múltiplas com objetos vários.
No jogo, uma relação que se desenvolve e persegue uma direção.
Como o ator cria?
Como o público se relaciona com isso?
Pensamentos incompletos a seguir...


COMPOSIÇÂO
A composição pode incluir momentos de jogo.
Mas, como atores partimos sobretudo de arranjos, aleatórios ou não.
A preocupação maior é encadear os acasos dentro das restrições propostas.
Ao criar uma composição, não se sabe exatamente aonde vai se chegar (não que a gente saiba no jogo). Os níveis de relação são vários. Pode-se trabalhar vários focos. Não há a preocupação em dividir com o público todos so signos. Nem de dominá-los.
O público se envolve com o momento porque uma ação se desenrola, ou porque algo o atrai.
Mas não obrigatoriamente compreende todos os passos.
Um enigma estético?
Ao assitir uma composição, eu-público me sinto na iminência de um ataque terrorista. "Algo vai acontecer! Mas o que é isso que vai acontecer?"... mesmo no sutil, eu-público numca sei por que lado uma composição irá me atingir.



O JOGO
Na criação de jogo, uma exposição.
A apresentação de um "problema", uma relação que se desenvolve e se tensiona até uma resolução. Fios que vão se esticando, enrolando, criando desenhos, envolvendo tudo ao redor. Fios que nos mantêm suspensos porque podem a qualquer momento estourar.

Toda vez que, como público, me deparo com uma situação real de jogo, sinto essas voltas no meu estômago. Estou diretamente implicada, envolvida, enrolada por esses tais fios invísiveis do jogo. Na minha cadeira de público, jogo também, ansiosa, revirando os pés no chão, agindo também na minha enganosa aparente imobilidade. Vejo as soluções que escapam, as chances perdidas, as armadilhas onde cai o pobre personagem-jogador. Sinto compaixão e identificação.
O ator joga e eu-público ajo na minha cadeira.
Deparada com o jogo, eu-público sinto prazer imenso. Mas isso só porque tenho elementos suficientes para compreender, identificar-me e participar.

Na construção do jogo, os atores tem que ser capazes de expor claramente a situação, nada se esconde. Mesmo que, o tempo todo, como na vida, sejamos surpreendidos por novos revezes ou revelações.
Mas o ponto de partida e uma possível linha de chegada (muitas vezes inalcançável) estão lá o tempo todo.
Um ponto fixo de onde se pode ver o movimento.
E o ator oferece essas direções ao público com generosidade e com consciência de que está jogando.

(Jogar tem a ver com escuta, generosidade e deixar a identificação para o público, não para o ator.O ator se engaja na jogo, mas não é vítima dele. Bom, grande assunto. Fica para um próximo comentário.)


AQUI
Pesquisamos neste momento composição e construção de jogo. Como as duas formas de criação refletem o que vivemos?
Fico pensando em tudo que estou lendo do Baumman... Post sobre isso em breve.

COMPOSIÇÃO 01 CRIS

COMPOSIÇÃO 01 MANU

Para a minha primeira composição escolhi dois depoimentos, ambos foram recolhidos na AV. Paulista em frente ao hospital Santa Catarina:

Uma jovem lamenta:
- “a vida é tédio ou necessidade”
- a falta de algo que move a vida
- a vida consiste na busca da satisfação, sem busca não há sentido.

Uma senhora lamenta:
- num país rico como esse, não sou feliz com meu semelhante dormindo na rua.
- lamento tudo. Eu sofro pelas faltas de cuidado com a saúde. Eu sou humana.

Escolhi estas frases porque de certa forma elas conversaram durante a intervenção... Diante da resposta da jovem do primeiro depoimento, a senhora comentou ser egoísmo o pensamento da jovem.

- Isso é egoísmo. – Dizia a senhora para mim.

Na cena, brinquei com as frases, falando e repetindo os lamentos das duas e o comentário da senhora em ordem aleatória enquanto, na ação, toda vez que olhava no olho mágico minha mão tapava a visão e não via nada. A música era repetitiva, um trecho específico: “eu não sou eu, nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio...” da Adriana Calcanhoto musicando um poema de Mario de Sá Carneiro.
Na execução da composição faltou trabalhar o tempo da cena, o ritmo da cena, a aceleração das ações, da desconstrução do texto e da movimentação...

COMPOSIÇÃO 01 PAULA

COMPOSIÇÃO 01 GRAZIELA


Logo depois de receber as instruções para criar a PRIMEIRA composição, estava eu arrumando minha malinha para ir para Fortaleza à trabalho. Me deu um frio na barriga, os 3 dias para criação eu estaria atolada, sabia que não teria o necessário ócio criativo, defendido pelo sociólogo italiano Domenico De Masi.
Veja resumo (http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/resumo_livro_ocio_criativo.pdf).

No meio de roupas, calcinhas, gloss, livros, DVDs do Acervo Mariposa (projeto com que eu viajei), estavam os "meus recadinhos" coletados na intervenção da Mostra SESC, itém requesitado para a criação. Organizados por tipo de pergunta e local de coleta, uma sistamatização adquirida no mestrado há muito tempo, eles estavam agora viajando a muitos quilômetros por hora, a uma altitude descomunal e a uma temperatura que não vale mencionar.


Sexta-feira pela manhã, em meio a uma palestra sobre videodança, minha atenção pulava entre o maravilhoso e instigante discurso de Alexandre Veras e o ensaio que eu estava perdendo. Me senti na lanterninha. Nesse instante uma raio me atingiu e percebi que poderia começar minha composição à distância, afinal que Era estamos vivendo? Ao meu ver a da não distância e a da total distância (isso discuto depois!)

Inspirada pelas palavras e imagens que o Alexandre mostrou, me veio a imagem de um varal de roupas coloridas.

Eu já tinha 2 elementos para iniciar:

1. instigar meu público (nesse caso o grupo) à distância;

2. um varal de roupas coloridas.

Roupas... de repende, eu realmente me dei conta que ao perguntar "que porta vc quer abrir?" eu estava abrindo a porta da intimidade daquelas pessoas, e que elas, muito generosas, me respondiam sua intimidades.

Cheguei à conclusão que passei dez dias investigando as intimidades das pessoas... bingo...

Escrevi um email para a minhas cologuinhas com as seguintes demandas:

"Minha composição se inicia aqui

neste momento

com essas linhas

peço

cada uma de vcs

que

separem pelo menos 3 peças de roupa que vcs considerem íntima

a cada escolha relacione uma palavra, escreva essa palavra, guarde para vc

a cada escolha tente entender por que é íntima

escolha uma sacola, colorida

coloque as escolhas dentro da sacola

leve para o ensaio

sente ao lado do seu saco de intimidades

minha composição continuará..."


Tarefa

Apresentação das respostas recolhidas; propor uma relação espacial clara; objeto; usar os papéis recolhidos; pode ter outra pessoa; entrar uma música; ter um gesto que se repete; ter texto, durar até 5 minutos.

 

Preparação

Estudando as respostas que recolhi na intervenção, percebi uma repetição entre elas e comecei a organizá-las de forma que se relacionassem entre si, como se estivesse abrindo portas, ou seja, cada resposta abrindo a possibilidade para outra resposta. De alguma forma, ligadas entre si. Reconheci também como cada momento de recolhimento de resposta eu entrava no intimo das pessoas.

 

Para a relação espacial, resolvi com um varal cortando o espaço, e a participação das pessoas foi através de um pedido, para que trouxessem roupas (nossa 3ª pele) que considerassem intimas, ligando com a sensação gerada pelo estudo das respostas e também conectando com a intimidade forçada que vamos estudar. Uma tentativa provocativa para descobrir o que é intimo.

 

O mote da minha composição foi a conexão.  Como tudo se conecta. Como tudo está ligado. Em um varal de intimidades o pregador de roupas é o grande conector. O pregador foi meu objeto usado.

 

O gesto que se repete veio da ação de colocar as roupas no varal. A música um mantra.

 

 

Composição

O espaço cortado por um varal.

 

 “Tudo está conectado, uma coisa que liga outra coisa, que liga outra coisa, com outra coisa, com coisas e mais coisas. A conexão das coisas”.

 

Somando ao mantra a ação de colocar no varal as roupas que cada uma considerava intima. As “intimidades” foram colocadas uma a uma, prendidas pelo pregador e também sendo conectadas entre si formando uma rede de intimidades.

 

Essa rede pronta começou a receber as respostas que também foram organizadas em rede (veja esquema abaixo).

 

No varal o grande conector, o PREGADOR, ligava as intimidades e as falas das pessoas.


COMPOSIÇÃO 01 ANA

Primeira composição –
A PaRTIR DA EXPERIENCIA na mostra sesc com a intervenção das portas nas Ruas:
criar uma composição que tenha
pelo menos um depoimento
musica
Papeizinhos dos depoimentos
Relação espacial clara

mmm...

Musica- associo com canto. Lembro de um canto da sala que num improviso chamou-me
(e lah vejo algo inspirador ainda a desenvolver)
Em cada canto um lamento. No lamento. Por eu estar num instante dolorido, desconcentrada, na vida, eu lamentava. Profundamente.

Como não cair no melodrama, q seria fácil fácil ....
Como criar neste estado?
Sendo ele, e podendo sair dele.
Ele existe, de fato existe. Naquele dia o sentia.
Imagem –ação:
Em cada canto literalmente um lamento e de um canto pro outro, a escolha, leve, bem humorada. Sorriso de cça q faz arte.AQUI O ESTADO me governava a ação.

Na parede colada esta frase escrita na intervenção:
AS PESSOAS PAdECE POR POUCO CONHESIMENTO

Um transito entre o de fato sentir, expressar um Ai de mim de tragédia e saltar para o aqui agora como cça que escolhe ou eh chamada por outro brinquedo. E vai correndo feliz.
E neles ( cantos) varias pessoas pipocando fazendo a mesma ação, com tranferencia de um canto ao outro em sincronia, e olhar cúmplice de jogo)
Então Manu, entrava comigo, representando as pessoas.

o som do lamento forte ( um uivo quase, um ái daqueles q vêem do ventre),
Com a entrada de manu, passavam agora a serem ditas as respostas das tantas pessoas que deram seus depoimentos na rua.
Sons
Um marulho de frases
( palavras contidas nos sons – palavras estas escritas pelas pessoas durante as intervenções. Uma manta de sons lamentos.
Importantes manontroppo.
Daí
Quebra –

MANU( representando uma mulher que encontrei no viaduto do cha)

Ela- O que é isso ??
Eu -uma brincadeira
Ela- que brincadeira eh essa eu vou aí te bater.
Eu -Não!
Ela- Vou sim

Então eu quebra este ‘ teatro’ e ai la na frente perto da platéia
E contava simples:
Isso aconteceu no viaduto do chá, uma mulher baixinha, falou pra mim que ia me pegar....
Contei o episódio
Eu disse que não ! e fiquei pronta pra tudo mas ao mesmo tempo que tinha ‘ medo’ me dava vontade de rir, e sorria de fato, mas pronta pra fugir se fosse necessário! Ela estava pronta pra sair correndo !
Eu disse q era uma brincadeira, e ela se aproximou.
Pra que isso perguntou
Eu disse a ela que a gente se interessa pelas opiniões das pessoas
A gente gosta de saber o que as pessoas sentem. Que fizemos e fazemos em lugares muito diferentes. Ela se interessou, sorriu.
Perguntei que porta ela quer abrir
A PORTA DA SAUDE DO MEU FILHO
Olhei para ele e o cumprimentei distante
Ela disse ele não fala fia !
Eu: ELE não fala mas ouve.
Ela : OUVE !!!!! e riu.
Sorriu e disse , ce acha que eu ia te bater. Olhei com cara de, constatação das tantas possibilidades e perceber que o limite entre o que seria ‘normal’e o absurdo, eu disse:
olha onde a gente está ! me conta pq não !
deu risada e falou:
Amiga ! Bateu na mão como cumprimento de amigo adolescente.
Poucos dentes na boca, com LINDO OLHAR DE CRIANÇA, DIZ
Eu também sou artista. Pra viver precisa ser artista;
MEU PALCO EH OUTRO
EU, SOZINHA, COM 3 FILHOS.






A quebra para a narração de uma historia real:
De onde:
...........senti. q oq me chamava era um encontro dos tantos q houveram durante as intervenções da porta, pela mostra sesc.
- Um encontro que me marcou pela surpresa, pelas infinitas possibilidades que um encontro que de fato real contem. Ali havia jogo. Ambas em cena. Mas não no alarde, nem no chamar atenção mas na relação tudo podia. Ela mais ou tão presente qto eu.
O fio entre nós, e só nós ( mesmo no meio da muvuca 16hs talvez em dia de semana viaduto do chá, silenciou-se o resto, na lembrança esta assim registrado em mim).
O fio estava teso, esticado, vivo.
Lembro do instante com vida. Risco. Olho no olho e ela pela atitude me possibilitou passear entre o absurdo e a ‘normalidade’, entre a intimidade e loucura ou desconexão. Houve encontro, dramaturgia, transformação, afeto, depoimentos, troca de experiências de vida. Nos conhecemos um pouco. Conversamos. O encontro valeu.
Então peguei este instante e em quebra à construção anterior contei-o às meninas – platéia.

Está claro ou é preciso q eu retome este ponto !!! ? cacacaaaaaaaa

COMPOSIÇÕES - INSTRUÇÕES DE USO

"Serão 8 meses de criação, muito tempo para experimentar muita coisa, muito material de pesquisa para fomentar o processo criativo, muita matéria a organizar para não se perder pelo caminho, tateando na tentativa, no erro e no acerto.

O que fiz é dar uma consígnia, como qualquer pessoa que conduz um processo, pensando num método para se chegar em algum lugar que nem sei qual é... Sabendo das pesquisas que virão, sabendo que a criação não é compartimentalizada, sabendo que para criar precisamos ter os dois pés no caos e no método.
As consígnias virão para conectar a pesquisa e a criação.
È meu papel de direção dar consígnias. E acredito que elas nascerão organicamente do processo, das trocas. E serão muitas e terão formas diferentes.
Lidar com as consignías é o grande frisson da colaboração, e que provoca lugares desconhecidos para todas as partes.
Só alerto para o fato de desviar-se das consignias. E isso vale para todas nós durante o processo.
Isso seria uma pena...
Agora, diante da pesquisa e conteúdos dos últimos dez dias, este é o momento de lidar com o material que recebemos das pessoas... de lidar com o material enquanto ele está fresco e vivo na gente.
A maneira de colocá-lo na criação e não guardá-lo no armário.
A maneira de compartilhá-lo sem ficar horas lendo papeizinhos que acabariam perdendo sentido.
Torná-lo vivo de um outro jeito.
É nesse sentido esta primeira consígnia.

Se na sua composição, você lidar com consígnias propostas, ou seja, tratar o material que recebeu na rua, e colocar uma música, texto dos papeizinhos, um objeto, etc etc, você pode sair pelada no meio da rua assobiando camisa amarela numa prancha de surf... é sua ópção de criação. Que o processo irá apontar como válida ou não."

Trecho de e-mail sobre os objetivos da primeira Composição do processo.

MATERIAL DE INTERVENÇÕES Manu



Dia 09/10 – Paulista com Consolação
O que você Lamenta?
- falta de dinheiro!!!
- a falta de tempo para abrir todas as portas em meu caminho
- a falta de tempo vivendo numa metrópole como Sampa!
- estar com frio agora
- lamento nada
- que a porta está fechada
- a existência da porta que separa meu olhar do teu

Que porta você quer abrir?
- um novo trabalho
- já se abriu
-felicidade
- ... do meu futuro
- a porta do amor pelo Brasil
- da fortuna!
- da riqueza!!!
- um novo relacionamento

Dia 10/10 Trianon – Masp
O que você Lamenta?
- não ter um namorado bonito e fiel
- lamento: minha saúde perdida e os pecados (muitos!) cometidos no passado.
- Lamento a política, saúde, respeito ao próximo
- Não ter emprego para estágio na área da saúde
- uma metrópole como São Paulo merece mais do que um síndico.
- 1 – Kassab prefeito
2 – Estar sempre atrasada
3 – não ter dinheiro ou apoio para meu grupo de teatro!!!

Que porta você quer abrir?
- a porta da igualdade, em todos os sentidos...
- ta tudo aberto para mim
- que a esperança vença a mediocridade
- porta do respeito e direito iguais para todos.
- as portas da cultura e educação =)
- quero abrir a porta da salvação porque só Deus é o Senhor
- não repetir os pecados do passado e recomendar as pessoas que não os cometam


Dia 13/10 – Prédio da Gazeta
O que você Lamenta?
- pobreza
- falta de respeito com a natureza
- fome
- às vezes ter medo de ser feliz.
- auto destruição do ser humano.
- a solidão
- violência
- não estar aí do outro lado...


Que porta você quer abrir?
- liberdade para ser leve e feliz!
- NATUREZA
- respeito
- felicidade
- AMOR bem grande!
- fraternidade
- emprego
- FELICIDADE

Dia 14/10 - Metrô Brigadeiro
O que você Lamenta?
- “A vida é tédio ou necessidade”
A falta de algo que move a vida.
A vida consiste na busca da sofisticação, sem a busca não há sentido
- tudo. Eu sofro pelas faltas de cuidado com a saúde. Eu sou humana
- num país rico como esse, não sou feliz com meu semelhante dormindo na rua.
- a porta estar fechada.

Que porta você quer abrir?
- da minha vida profissional
- do governo.
Da saúde.
Da assistência social
-todas. Viver tudo o que a vida lhe proporciona.

Dia 15/10 - Praça da Sé ao Patriarca
O que você Lamenta?
- meu lamento é minha vida passei pela morte e agradeço a Deus que estou aqui cada dia que passa. Muito obrigada.
- MUNDO DE HOJE
- lamento ver essa pessoas na rua desamparadas
- “lamento a arte não ter reconhecimento necessário e lamento por existir pessoas egoístas no meio dela” (foi esse cara quem escreveu sobre as portas da percepção na porta do vale do Anhangabaú)
- saúde
Pessoas dormindo na rua
Mais limpeza na cidade
- nada. Só grana
- lamento São Paulo não ser melhor do que ela é porque tem muita coisa boa
- lamento sofrer pelo amor
-ter largado em sonho (quem falou isso foi um policial fardado)

Que porta você quer abrir?
- pão e água
- AMOR. Alean
- amor respeito compaixão
- saúde
- felicidade. Jarcila Lopes
- SAUDE
- Que todos fossem felizes. TODOS. Cada um da sua forma.
- eu quero abrir a porta da compaixão do amor incondicional
- “que quero abrir a porta da alegria no mundo” (o cara que escreveu na porta)
- do amor
- de deus e da justiça verdadeira
- a porta do amor sem sofrimento.
- da paz.

Dia 16/10 - Patriarca à Sé.
O que você Lamenta?
- injustiça e corrupção
- o que estão fazendo com as crianças, a pedofilia (uma mulher da guarda municipal)
- pela violência
- injustiça

Que porta você quer abrir?
- prosperidade
- dar início aos meus estudos!
- Paz!

MATERIAL DE INTERVENÇÕES Cris

MATERIAL DE INTERVENÇÕES Ana

MATERIAL DE INTERVENÇÕES Graziela

VOCÊ ESTÁ AÍ? - MATERIAL DE INTERVENÇÕES


Durante as intervenções com as portas em São Paulo, o objetivo principal era pesquisar os lamentos das pessoas da cidade e o que elas gostariam de mudar, realizar, fazer.
Enquanto as portas fixas desempenhavam uma função dupla, um lamento político-social implícito ao propor uma nova possibilidade de cidade, as portas móveis encorajavam o testemunho pessoal.
Em termos de estrutura, apresentávamos as perguntas em pequenas plaquinhas que poderiam ou não ser lidas através dos olhos mágicos de nossas 5 portas caminhantes. Começamos com perguntas fáticas:
"Olhe aqui"
"Você está aí?"
"O que é isso que nos separa?"
Essas perguntas criam um jogo bem humorado com os participantes do público. E é muito divertido brincar com olhar e ser olhado através da pequena lente convergente.
Depois de brincar, perguntamos:
"O que você lamenta?"
Nesse instante, acontece um momento de suspensão. Um momento revelador daquele ser humano na nossa frente. Um contato real, íntimo e até perturbador. Pequeno silêncio. A energia, antes focada na relação com o performer, se volta para si mesmo. Um olhar pra dentro que pode durar segundos, ou muito tempo, mas que, de um jeito inescapável, altera a densidade leve daquele momento.
As reações variam. Há aqueles em que surge uma tristeza. Há aqueles que revelam um amor desmedido pela vida que se viveu até então (principalmente entre as senhorinhas que já viveram muito!) e nenhum arrependimento ou lamento. E muitas respostas fortes, corajosas, chocantes ou banais, que são escritas nos recadinhos e coladas no lado "Porta da lamentação".
Quando a pessoa acha que a interação acabou (alguns até desanimados pelo lamento), vem a revelação do outro lado da porta e uma nova pergunta:
"Que porta você quer abrir?"
As respostas do "lado da esperança" têm um vínculo muito forte com a resposta do lamento. Uma conexão entre os dois lados.
Algumas vezes, a pessoa do público nos pergunta de volta.
E você? Que porta você quer abrir?

Confesso que toda vez que isso aconteceu comigo, não consegui responder.

domingo, 9 de novembro de 2008

AQUI


Começamos a postar deste link.
"Out of Key(s)" acabou gerando o PROJETO AQUI DENTRO AQUI FORA. O primeiro més do projeto se dedicou a transpor para São Paulo o projeto realizado anteriormente em Zagreb, Croácia.
Em outubro, realizamos uma série de intervenções em vários pontos da Cidade de São Paulo.
Aqui chamamos de "Fora de Chave". Nós e nossas portas.
Fora se synch, fora do tempo, fora do tom, igualmente desafinados.
As intervenções nos ajudaram a fazer nossas primeiras perguntas para a a cidade e para nós mesmas.
Optamos por publicar o conteúdo deste começo em www.opovoempeemzagreb.blogspot.com.
Desta maneira, as diferenças e semelhanças entre as duas cidades ficam mais claras. A evolução do trabalho melhor exposta, já que seguem o mesmo coneito estético. Aqui ficaremos com as reflexões que resultaram desta experiência e com os resultados diretos na criação.