Logo depois de receber as instruções para criar a PRIMEIRA composição, estava eu arrumando minha malinha para ir para Fortaleza à trabalho. Me deu um frio na barriga, os 3 dias para criação eu estaria atolada, sabia que não teria o necessário ócio criativo, defendido pelo sociólogo italiano Domenico De Masi.
Veja resumo (http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/resumo_livro_ocio_criativo.pdf).
No meio de roupas, calcinhas, gloss, livros, DVDs do Acervo Mariposa (projeto com que eu viajei), estavam os "meus recadinhos" coletados na intervenção da Mostra SESC, itém requesitado para a criação. Organizados por tipo de pergunta e local de coleta, uma sistamatização adquirida no mestrado há muito tempo, eles estavam agora viajando a muitos quilômetros por hora, a uma altitude descomunal e a uma temperatura que não vale mencionar.
Sexta-feira pela manhã, em meio a uma palestra sobre videodança, minha atenção pulava entre o maravilhoso e instigante discurso de Alexandre Veras e o ensaio que eu estava perdendo. Me senti na lanterninha. Nesse instante uma raio me atingiu e percebi que poderia começar minha composição à distância, afinal que Era estamos vivendo? Ao meu ver a da não distância e a da total distância (isso discuto depois!)
Inspirada pelas palavras e imagens que o Alexandre mostrou, me veio a imagem de um varal de roupas coloridas.
Eu já tinha 2 elementos para iniciar:
1. instigar meu público (nesse caso o grupo) à distância;
2. um varal de roupas coloridas.
Roupas... de repende, eu realmente me dei conta que ao perguntar "que porta vc quer abrir?" eu estava abrindo a porta da intimidade daquelas pessoas, e que elas, muito generosas, me respondiam sua intimidades.
Cheguei à conclusão que passei dez dias investigando as intimidades das pessoas... bingo...
Escrevi um email para a minhas cologuinhas com as seguintes demandas:
"Minha composição se inicia aqui
neste momento
com essas linhas
peço
cada uma de vcs
que
separem pelo menos 3 peças de roupa que vcs considerem íntima
a cada escolha relacione uma palavra, escreva essa palavra, guarde para vc
a cada escolha tente entender por que é íntima
escolha uma sacola, colorida
coloque as escolhas dentro da sacola
leve para o ensaio
sente ao lado do seu saco de intimidades
minha composição continuará..."
Tarefa
Apresentação das respostas recolhidas; propor uma relação espacial clara; objeto; usar os papéis recolhidos; pode ter outra pessoa; entrar uma música; ter um gesto que se repete; ter texto, durar até 5 minutos.
Preparação
Estudando as respostas que recolhi na intervenção, percebi uma repetição entre elas e comecei a organizá-las de forma que se relacionassem entre si, como se estivesse abrindo portas, ou seja, cada resposta abrindo a possibilidade para outra resposta. De alguma forma, ligadas entre si. Reconheci também como cada momento de recolhimento de resposta eu entrava no intimo das pessoas.
Para a relação espacial, resolvi com um varal cortando o espaço, e a participação das pessoas foi através de um pedido, para que trouxessem roupas (nossa 3ª pele) que considerassem intimas, ligando com a sensação gerada pelo estudo das respostas e também conectando com a intimidade forçada que vamos estudar. Uma tentativa provocativa para descobrir o que é intimo.
O mote da minha composição foi a conexão. Como tudo se conecta. Como tudo está ligado. Em um varal de intimidades o pregador de roupas é o grande conector. O pregador foi meu objeto usado.
O gesto que se repete veio da ação de colocar as roupas no varal. A música um mantra.
Composição
O espaço cortado por um varal.
“Tudo está conectado, uma coisa que liga outra coisa, que liga outra coisa, com outra coisa, com coisas e mais coisas. A conexão das coisas”.
Somando ao mantra a ação de colocar no varal as roupas que cada uma considerava intima. As “intimidades” foram colocadas uma a uma, prendidas pelo pregador e também sendo conectadas entre si formando uma rede de intimidades.
Essa rede pronta começou a receber as respostas que também foram organizadas em rede (veja esquema abaixo).
No varal o grande conector, o PREGADOR, ligava as intimidades e as falas das pessoas.
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