Acabo de me dar conta que é da natureza desta pesquisa estar vazia e disponível na exploração e não cheia, mas o que acontece comigo é que eu não consigo ser vazia porque eu não sou vazia, tenho densidade de matéria bem mais densa que a densidade que tem o AR... fora de mim. Por isso preciso de tempo de estar comigo antes de estar com outro e neste trabalho somos convidados a tal pelo Noberto que nos pede para scannear nosso ser, para agir através de impulsos, deixar fluir... presente no espaço.
Lá de trás: Segunda feira, o 1° dia: o Norberto propôs e brincamos com ritmos, ativamos o corpo, brincamos, foi como uma integração de equipe... levantamos a discussão sobre o tema com os convidados e ficamos de fazer um lista de ações (interrompidas) para o 2° dia de workshop. Também deveríamos escolher e decorar um trecho de um texto sobre o dentro e fora, e/ou sobre o lamento (este, um pequeno universo dentro de um maior). Arrisquei rascunhando pensamentos da Hannah Arendt, da astronomia de Jorge de Albuquerque Vieira e das minhas brincadeiras. Ah! Tem Shakespeare também... lá vai:
“É altamente improvável que nós, que podemos conhecer, determinar e definir a essência natural de todas as coisas que nos rodeiam e que não somos, venhamos a ser capazes de fazer o mesmo a nosso próprio respeito: seria como pular sobre nossa própria sombra.” ¹
Nossa própria sombra. Assombra a linha limite, a linha aqui e ali fora e dentro dentro dentro sinto meu pulso sinto ar contornando meu pulso pulso pul so
Derreto como gelo, como derrete o branco gigante do hemisfério. Derrete espalhando água recolocando deslocando Deslocando água sangue no tempo sucessivamente no espaço todo dia
Até ficar longe longe longe e lá manifestar lentamente a transformação. O universo
(Uni verso)
Um verso verso único: que verso escolher?
Olho de longe: “E o que o amor pode, o amor ousa tentar”²
não é atôa que a gente é reflexo desse céu estrelado, somos o universo manifestado, dentro . independe da escala do zoom se olharmos bem é sempre um novo universo contendo o universo anterior sempre maior e menor
penso nos órgãos nas tripas que nunca estiveram fora. Sempre úmidos. Nunca estiveram em contato com o ar, não sem a minha mediação. Se alimentam do ar que já respirei. São parte de mim como sou parte do universo. To dentro ou to fora? Imagine um mundo sem perguntas...
penso nos órgãos nas tripas que nunca estiveram fora. Sempre úmidos. Nunca estiveram em contato com o ar, não sem a minha mediação. Se alimentam do ar que já respirei. São parte de mim como sou parte do universo. To dentro ou to fora? Imagine um mundo sem perguntas...
¹ ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Forense Universitária, 2008.
²SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. Nova Fronteira, 1997.
No 3° dia trabalhamos bastante voz com texto, voz sem texto, VOZ. Exploramos a reverberação do som no próprio corpo e na sala. Estávamos numa sala com pé direito baixo e foi possível fazer vibrar o ar na sala. Reverberar.
Agora, do 4° para o 5° dia de workshop, é hora de dar um passo novo: codificar sem se fechar, trazendo à consciência aquilo que se visita durante o trabalho. Hora de fazer escolhas. Nós levantamos materiais nestes dias (tenho uma seqüência de ações (interrompidas) e o texto) que agora devem ser organizados para seguirmos com o trabalho caminhando a um momento cênico – foi um pedido no Norby, estou trabalhando com a Gra nisso. Mesmo fazendo escolhas de ações e texto no tempo, ainda assim devemos nos manter abertas para o presente, para os impulsos que acontecem no exato instante do jogo, da relação viva para incorporar estes impulsos. E já, levando o retorno da Cris de hoje para a prática, acho que seria legal nós termos como intenção a leveza do jogo cômico, de fundo, como uma intenção branda... as coisas devem ser organizadas no corpo e nosso trabalho é escutar impulsos, escolher uma seqüência em dupla de texto e ação, e jogar com elas nos três níveis de atenção que o Norberto fala: consigo, em relação com o outro e em relação com o espaço. Muita coisa, hã?...
Que venha o amanhã!
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